
Uns metros à frente vejo que as rochas formam uma protecção da corrente, espero que esta amaine e lanço-me na sua direcção. Finalmente consigo um abrigo para descansar um pouco. Normalmente não nado contra a corrente, mas hoje era necessário, não havia nada a fazer tinha de ir naquela direcção.

Um polvo observa-me atentamente interrogando-se que faria ali aquele ser desajeitado. Pensa que só mesmo um humano para ser assim tão pateta a nadar contra a corrente, ainda por cima carregado de adereços.
De facto nós os Homens somos os únicos animais que lutam contra a natureza, todos os outros adaptam-se e fluem com ela. Nós não achamos que podemos controlá-la, domesticá-la... Pura ilusão, a natureza é bem mais forte e se continuamos a agir desta forma ela acabará por se virar contra nós.

Tento acalmar a respiração e descansar ao máximo para tentar novo trajecto, vou deixando-me contagiar pela harmonia que reina neste mundo de imponderabilidade. Aqui não há pressas, stress, ansiedade. Paz! Uma profunda Paz invade-me.

A ideia é tentadora, de repente atingir o objectivo deixou de interessar, só a harmonia que me rodeia interessa, a minha respiração abranda rapidamente. A Paz invade-me, toma conta de mim. Já nada mais me interessa, vou ficar aqui, já não volto!
Um caboz aproxima-se e diz-me que talvez não seja muito inteligente aquilo que estou decidido a fazer. Respondo-lhe que sinto-me em Paz e é assim que quero ficar. O caboz sacode a cauda e levanta a barbatana -És um parvo! Para quê que vais abandonar tudo? Achas que aqui em baixo há Paz? Não! A Paz que sentes é aquela que trazes dentro de ti, só que enquanto estás à superfície não a sentes pois tens outros objectivos. Já esqueceste que ainda não há muito tempo debatias-te para vencer a corrente, achas que estavas em Paz nessa altura?
-Não. De facto não estava em Paz e és capaz e ter razão, ela deve estar mesmo dentro de mim.

Subo até aos 5 metros e faço a paragem de segurança de 3 minutos. Deixo-me fluir com a natureza, estou em plena Paz e harmonia com tudo o que me rodeia, a minha respiração está calma, sinto perfeitamente tranquilo.
A corrente arrasta-me docemente, deixo-me levar, acabou o tempo do patamar de segurança, vou subir.
Surpresa! Ali na minha frente está o cabo da ancora do barco, agarro-o e subo por ele. Já há superfície deixo-me levar pela corrente até à popa e com calma subo para bordo.
Lição aprendida!
4 comentários:
Até eu já estava a ficar sem ar!!! realmente o mar consegue sempre dar-nos grandes lições, basta que o saibamos escutar...
Adorei as fotos, soberbas como sempre.
Fica bem e bom domingo
Micas - Pena que sejam "requentadas" pois são de outro mergulho, neste não levei câmara. Essa história está no 32.
Fica Bem!
Está giro este teu espaço, por momentos revi-me aqui.
Há muito que não ouvia falar no River Gurara e esta semana é a segunda vez, fez-me lembrar que houve uma altura em que conhecia o destroço a palmo, acho que ainda tenho por aí uma vigia das que ajudei a tirar de lá. Um destroço afundado entre tantos que foram os meus mergulhos predilectos noutro tempo (pré "nitrox") mais à frente li um relato de uma viagem onde "passaste" por cima de outros célebres: a "barca das 19" em Sagres ou o "L'Océan" na Salema...E outros perto...
Um abraço.
Paulo Lopes - Esta semana completou-se o vigésimo aniversário do naufrágio do River. Houve uma iniciativa para evocar a memória dos que pereceram e para honrar os heróis dessa noite. Infelizmente não pude comparecer em nenhum dos eventos agendados.
Bem-vindo ao meu canto.
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