domingo, 21 de junho de 2009

Que dia...


Lembro-me do azul
Um azul profundo, luminoso
Onde a vista se perdia
Achando-se nos corais

Nadei na mansidão da corrente
Livre das grilhetas da gravidade
Pairei sobre rochas, sobre areia
Na ternura da imponderabilidade




Lembro-me do crepúsculo
Da doçura da água
Que me acolhe no seu seio
Que me abraça suavemente

As medusas soltam os tentáculos
Como cabelos sacudidos no vento
Ondeiam ao sabor da corrente
Despenteados, belos, livres



Lembro-me da escuridão
Sem a luz do dia
Sem a luz da lanterna
Outra luz surge

Milhares de estrelas brilham
Como uma via láctea
No fundo do Oceano
O esplendor galáctico




Lembro-me de 2 olhos fitarem-me
Interrogavam quem anda aí
Quem ousa perturbar a Paz
Quem trouxe essa luz

Sinto-me intruso naquele mundo
Sinto-me um estranho na terra
Quero viver aqui
Embora em breve deva partir




Lembro-me daquele dia
Da imensa paz
Do sublime pôr-do-sol
Da serena noite

No nevoeiro da memória
Persiste aquele dia que passou
Como gravado numa rocha
Como desenhado no vento

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Proa do River

música: Sweet, Sweet Rain - Gene Loves Jezebel


Chove, Chove torrencialmente
O cheiro doce da terra molhada
O som forte e grave do trovão
Um relâmpago, uma luz rasgada

O mar estende-se à minha frente
Sinto o sabor salgado da maresia
O Doce e o salgado se misturam
O verde e o azul se completam






Desço lento ao fundo do mar
Percorro a longa galeria despida
Por entre ferros, tubos e manilhas
Surge de repente o brilho da vida

Em silencio contemplo o escuro
As sombrias entranhas da nave
Outrora sulcou majestosa as ondas
Hoje no fundo jaz inerte e grave




O caos é a origem do cosmos
A destruição é o berço da vida
Rodando eternamente
O universo é uma espiral infinita

À luz segue a sombra
À vida segue a morte
Inexorável o tempo passa
Mas repete-se sempre diferente





Sinto urgência por esperar
Mas porque espero? O que espero?
Talvez espero por esperar
Ou então apenas um desespero

Sinto o mar correr nas veias
Sinto o vento por baixo da pele
No meu coração batem as ondas
Nos meus olhos brilham estrelas



Recordo cada beijo que dei
Cada mulher que AMEI
Cada ternura dada e recebida
Cada lágrima de dor vertida

Sinto-me amarrado a mim mesmo
Preso num corpo que é meu
Sou estrangeiro em minha casa
Sou nativo entre estranhos