domingo, 6 de abril de 2008

ATLANTIS



Hoje venho falar de um filme, ou melhor DO filme da minha vida. Já me tinha referido a ele anteriormente e estava convencido que lhe tinha dedicado um post, fi-lo no entanto no antigo blog. Hoje resolvi postar sobre ele no Planeta d'agua e acabei por dar por essa falta.

Atlantis de Luc Besson é algo de extraordinário. Sem um único dialogo, sem um único actor humano, apenas o monólogo de abertura, que recomendo a audição na língua original - o francês, "Oblié un à un les sons de tous les jour (...) et plongé, PLONGÉ(...)". Fabuloso, colossal. Depois vem um verdadeiro festival de música, de Eric Serra, e imagem que em alguns casos nos deixam arrepiados de tanta beleza (destaco o bailado das Mantas ao som de La Sonnambula de Bellini interpretada de forma sublime por Maria Callas).

Luc Besson um dos melhores realizadores de cinema, filho de instrutores de mergulho, passou 5 anos da sua infância a acompanhar os pais à volta do mundo, tendo sofrido um acidente de mergulho aos 17 que o impossibilitou de mergulhar durante anos e o fez desistir do seu sonho de vir a ser um biólogo marinho e estudar golfinhos. Aos 18 anos regressa à sua cidade natal (Paris) e tem o primeiro contacto com a vida urbana, e pela primeira vez tem uma televisão. A vida escolar aborrecia-o e começou a escrever na escola os primeiros esboços de 2 das suas obras primas - Le Grand Bleu e Fifth Element. A sua cinematografia é enorme e destacam-se: Subway (1985), Le Grand Bleu (1988), Nikita (1990), Atlantis (1991), Leon (1994), The Fifth Element (1997), The Messenger: The Story of Joan d'Arc (1999) e Arthur et les Minimoys (2006) .

Antes de me debruçar sobre o artigo para a Planeta d'Agua li dezenas de criticas ao filme e posso afirmar que todas são unânimes em considerá-lo único, belo e transcendente - Arte Visual como chegaram a catalogá-lo. Acho que deve ser um dos filmes mais consensuais em termos de critica que já tive oportunidade de ver.

O seu amor pelo mar pode sentir-se em cada segundo deste filme, como me revejo nele e como me identifico com cada fotograma. Sinto arrepios cada vez que vejo o capítulo La Grace, o qual podem ver aqui, vou já dizendo que a qualidade do You Tube deixa muito a desejar em relação ao DVD, mas até aí se apercebe que há muito amor na forma como se harmonizou as imagens e a música. Talvez esse seja para mim o momento mais marcante do filme, mas qualquer um dos outros capítulos é excelente:
  • "Oublié un à un les sons de tous les jour. tout ces bruits, tout ces symboles de une vie qui a devenue moderne, urbain. Oublié ce environnement de verre et de métal. Oublié cette asphalte que chaque jour nous envers, plus vite, plus loin. Bienvenues au monde de Atlantis, le monde originel. Un monde magnifique, harmonieux, mystérieux. L'homme y est née, l´homme y a grandie et maori comme un prince héritier. Il éduqué ses sens au contact de ce monde sans pesanteur, ce monde livre de tout le chaos. L'amour, la tendresse, le ritme, la grâce, l'esprit. Autan de cadeaux offrait pas jamais par cette mer belle et généreuse. Oublié une à une les souvenirs de nos nombreuse générations. Oublié tous que vous savais, Plongé. Plongé quelques millions d'année au paravent au moment on la vie, cette idée merveilleuse aller devenir une réalité".
  • La lumiére - inicio o mergulho olho para cima e vejo a suave ondulação, a luz é filtrada pela superfície do mar e explode nas bolhas libertadas pelo regulador, cardumes de salemas, barracudas e de uma miríade de espécies feitos de prata reluzem e reflectem-na numa espécie de bolas de espelhos.
  • L' Esprit - um Golfinho surge, cedo surge um segundo dançam rodopiam ao som de oboés e fagodes, houve-se uma harpa e outros se juntam, tocam as trompas e estamos perante um cardume que dança alegremente, a música e o bailando são unos como em qualquer coreografia do Bolchoi.
  • Le Movement - um mero passeia-se junto ao fundo, uma tartaruga parece voar como se fosse uma gaivota, surge uma serpente marinha que ondula graciosamente, a música assume um tom árabe, estou a assistir a uma dança de ventre nas mil e uma noites submarinas.
  • Le Jeu - rodopio debaixo de água os leões marinhos vêem ter comigo e juntos dançamos loucamente através do oceano, pinguins mergulham das rochas e juntam-se nesta dança frenética, uma iguana parece executar o solo de viola.
  • La Grace - mergulho num naufrágio e vejo-me envolvido por uma multidão de peixes, procuro o meu lugar numa janela, ao longe surge a diva do mar, a voz quase divina de Maria Callas parece desenhar os movimentos das Mantas, não respiro, não quero perturbar este momento divino, a cada flutuação da voz da diva dos palcos a sua congénere marinha evolui, subindo com os agudos, descendo nos graves, shiu não faças barulho, não perturbes, de repente explodem as palmas e milhares de peixes surgem de todos os lados.
  • La Nuit - de repente estou numa floresta de laminárias, um polvo gigante passa por mim e deixa um rasto de ferrado, segue graciosamente lembrando uma andorinha, ele é o arauto da noite e conduz-me a ela um caranguejo transporta os ovos rubros nas costas, gorgónias abrem os seus leques capturando plancton.
  • La Foi - com o som de um trovão surge um casal de orcas, seguem-se 2 belugas, estou numa catedral de coral, o seu estilo gótico é acentuado pelo coro, a luz irrompe pelas vitrais.
  • La Tendresse - estou já no exterior é manhã oiço as aves marinhas chamarem e sou conduzido à presença de 2 manatins, aqui não se sabe o que é pressa, cardumes envolvem-nos e sou convidado para um pequeno-almoço de algas, pachorrento o manatim choca comigo, leva a mão à boca num pedido de desculpa envergonhado, dou-lhe um abraço e despeço-me.
  • L' Amour - estou numa fenda, sigo os leões marinhos e vejo-os apaixonados beijando-se e mordiscando, embrulham-se e amam-se, 2 serpentes marinhas enrolam-se, um casal de tartarugas deixam-se entusiasmar, o Nudibrânquio dança atraindo a sua parceira, até as moreias se deixam levar pela onda de amor que invadio o oceano.
  • La Haine - a silhueta de um anequim ondula com uma graciosidade feroz contra a luz da superfície, sinto um calafrio ao ver que vários se juntam, são dezenas, largas dezenas, estremeço um grande tubarão branco surge, olha-me e sorri-me ameaçadoramente, de súbito surge o ataque um anequim primeiro e depois outro abocanham uma presa, um frenesim de morte irrompe no cardume, o tubarão branco abre as mandíbulas colossais na minha direcção, um frio de morte desce pela minha coluna ao pensar que não há mordedura mais poderosa do que aquela no mundo, um tubarão baleia diz-lhe para deixar o convidado de Neptuno em paz, é majestoso um séquito de rémoras e peixes piloto acompanha-o, leva uma eternidade a passar por mim, deixo a sua enorme barbatana caudal desaparecer no azul, agradecendo.
  • La Naissance estou debaixo do gelo, a luz chega a mim através de fendas e ranhuras, sinto-me dentro de um útero à procura da saída para nascer de novo, olho para trás, uma luz difusa, sobrenatural, lembra uma aurora boreal, deslizo por um túnel e vejo num orifício a luz, renasci... estou sobre as ondas, um barco traça um risco branco, sou um albatroz!
Deixei-me levar pela sensação sempre arrebatadora provocada pela visualização deste filme e fui escrevendo, perdi a noção do tempo (são 06:00) e to espaço, daí o comprimento deste post.
Excerto em francês é a transcrição do monologo inicial do filme (peço desculpas por qualquer erro pois estou algo desabituado de escrever na língua gaulesa)

Talvez Atlantis esteja no Lado Escuro da Lua!

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