domingo, 16 de novembro de 2008

O melhor mergulho do ano!

música: Sunset - Café del Mar
São 10:00 de um Sábado que faz jus ao famigerado Verão de S. Martinho, pois apesar do azul profundo do céu e do mar convidarem a um mergulho, a temperatura não era das melhores. Mas mesmo assim, ou talvez por isso, telefono para a Cipreia, marco um mergulho, preparo tudo e lá arranquei directo a Sesimbra, eram umas 10 da manhã.

Ao chegar, cumprimentos, apresentaçõe
s, preparação do equipamento e finalmente lá estamos a bordo prontos para sair.

O mergulho em si mesmo foi fabuloso. A visibilidade de por volta de 10 metros, a vida que encontramos, o sol, o estado do mar, numa palavra - TUDO estava quase perfeito.

Cardumes de Sargos, Salemas, Taínhas e Robalos vieram dar-nos as boas vindas assim que entramos dentro de água.

Sentia-me calmo como aquela estrela do mar que placidamente me observava. Por momentos parecia estar no Mar Vermelho, não fosse a temperatura da água, que não passava dos 15º e a visibilidade que sendo bastante boa para Portugal não tem nada a ver com o que podemos observar a sul do canal do Suez.

Vários Pargos passaram por nós e deixaram que nos aproximássemos de uma forma como nunca tinha visto. Perguntei se não tinham medo de nós, eles responderam que desde que foi criado o parque nacional de Sesimbra e proibida a pesca já não têm receio dos homens.

Tive de reconhecer que estava errado quando achei que criação desta reserva iria ser um fiasco. De facto estava ali bem patente a prova que o homem pode atingir o equilíbrio com a natureza. E que ela é pródiga em recompensar as boas práticas. A cada mergulho observo um incremento da fauna e flora em Sesimbra, provando que o Parque Natural é de facto uma mais valia. Era bom que outros Parques destes proliferassem pelo país, pelo mundo.

Era bom que parasse-mos as agressões ao meio ambiente e encontrasse-mos uma forma de viver em harmonia com ele.

Mas depois pensei, como será possível o Homem ter paz com a natureza se não têm com ele próprio?

É um sonho utópico pensar que um dia poderemos viver em equilíbrio com o planeta se não encontrarmos primeiro uma via para estarmos em paz com o nosso semelhante. Guerras, assassínios, processos de intenção, conjuras, difamações, discussões... Parecem estar indelevelmente marcados na natureza humana.

Ou então é apenas uma característica de alguns. Sim isso é o mais provável, nem todos os seres humanos são mesquinhos, existem pessoas que tentam atingir a felicidade só por si próprios, que a simples contemplação de um pôr-do-sol é mais do que o suficiente para se sentirem em paz, que oferecem mais do que pedem, que ajudam os outros de uma forma abnegada e altruísta.

Um polvo mais atrevido acabou por escapulir para debaixo do colete do meu buddy, demonstrando isso mesmo.

O buddy que me calhou desta vez foi, seguramente, um dos melhores que tive até hoje, não só os conhecimentos acumulados em 40 anos de mergulho, como a calma e os truques de uma longa vivência com o mar.

De facto nada substitui dezenas de anos de experiência visíveis em cada gesto, em cada observação, em cada conselho. Senti-me um iniciado e, no entanto, uma ainda mais profunda paz me invadiu, dei comigo a tomar atenção a pormenores que normalmente me escapam, sempre preocupado a ver se não me perco do buddy enquanto fotografo aquela anémona que me chamou a atenção.

Sabe muito bem mergulhar com quem tem tanta experiência e que vai lá para baixo com uma calma maior do que a nossa. Normalmente os mergulhos são a correr, pois a malta mais nova quer ver mais e mais, sempre com pressa, sempre com stress, muitos esquecem-se do buddy que parou para fotografar uma estrela do mar, poucos como o Octávio nos chamam para observarmos essa estrela do mar.

Tão menosprezada que é a experiência na nossa sociedade, instalou-se uma cultura em que apenas valorizamos os novos, em que tudo é efémero, em que as modas evoluem a um ritmo alucinante, uma sociedade que olha com desdém para os mais velhos, que os acha antiquados, desajustados.

A minha profissão é uma das principais responsáveis por isso, de facto 3 anos é uma eternidade em termos de desenvolvimento informático, rapidamente os mais velhos são ultrapassados pelos mais novos, a experiência pouco conta, pois tudo esta em constante mudança. Por isso muitas vezes sinto-me tentado a ir na maré da novidade, do que é velho não presta, para logo a seguir me arrepender. Devemos ouvir sempre a voz da experiência, dos mais velhos, daqueles que já viveram mais anos e que acumularam por isso uma bagagem superior à nossa.


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