quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Conversas com o Mar I





Estou em Sagres, o vento sopra forte – como de costume por estas bandas – e trás calor, um ameno calor de verão. O mar é um amigo, por vezes cruel, por vezes doce, mas sempre pronto para nos escutar e dar os seus conselhos.

Não sabiam? O mar dá-nos conselhos, a maior parte das pessoas não os ouve, mas ele fala connosco, umas vezes suavemente, outras colérico, às vezes chega a ralhar. Experimentem a sentar-se na areia à sua beira, esperem em silêncio e vão ver que ele começa a falar convosco.

Uma vez contou-me que lá bem no fundo ele tem sereias, que são as mais belas criaturas do Universo, mas que elas estão magoadas com os Homens porque eles não ouvem o mar nem a elas. E tu? - Perguntei – Não ficas aborrecido dos Homens não te ouvirem? Ele riu-se, com aquelas gargalhadas que só ele consegue dar, e perguntou-me – E tu meu tonto? Não és tu um Homem? Não estás por acaso aqui a ouvir-me? - Voltou a rir-se cavernosamente, e acrescentou – Há mais marés do que marinheiros, nunca ouviste? Assim, eu já cá estava antes de vocês chegarem e cá vou continuar depois de vocês partirem, por poucos de vocês que me ouçam é bem melhor do que quando não havia ninguém para me ouvir.

Fiquei triste, imaginando como era solitária a vida do mar, ele pousou-me um dos seus braços em cima de mim e exclamou – Anda brincar, a tua vida são 2 dias, tens de aproveitá-la, eu às vezes tenho pena de vocês, vivem a correr de um lado para o outro e a trabalhar e não têm tempo para brincar. Olha eu já era adulto quando vi a humanidade nascer e não passa um dia que não brinque, se não for aqui contigo, brinco na Califórnia com os leões-marinhos, senão no Brasil com os golfinhos. Olha! Um dia apresento-te às sereias, vais ver como são bonitas e danadas para a brincadeira, tens é que continuar a ser um brincalhão, senão elas nem te querem ver.


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