
Mergulhar com garrafas tem destas vantagens, temos tempo para observar, reflectir e tirarmos conclusões que às vezes poderão parecer surpreendentes.

Não me canso de repetir que o mar é algo de central na minha vida, preciso tanto dele como quase de respirar, aliás se estiver longe dele durante algum tempo começo a sofrer de ataques de asma.
Ao observar o Ruivo abrindo e fechando as barbatanas enquanto se deslocava junto ao fundo, uma torrente de pensamentos fervilhou no meu cérebro.
Pensei em toda a beleza que existe debaixo das nossas águas, na graciosidade dos seres que as habitam, na sorte que temos em possuirmos uma tão vasta e diversificada costa.

Nesse momento uma profunda melancolia assalta-me.

O polvo está para o mar com o mocho para a terra, é um dos guardiões da sabedoria. Disse-me que mais triste do que o desmoronamento de um Império, é a perda de identidade. Concordei, pois tirando a euforia bacoca que se vive durante as competições futebolísticas, perdemos a noção de patriotismo e o orgulho de um passado grandioso, talvez o mais grandioso da humanidade.
O Polvo acabou por me dizer que de facto o nosso foi o Império menos sangrento da história, nenhum Império se constrói sem sangue, mas no nosso uma boa parte dele foi substituido por água salgada.

Terá sido esse o nosso erro? O espirógrafo branco não concorda, as razões não podem estar com a barbárie, tens de as procurar noutro lado.
O computador indica-me que está na altura de subir, realizar a paragem de segurança de 3 minutos a 5 metros e regressar à superfície. Apercebo-me que apenas tinham passado 45 minutos, mas lá em baixo o tempo parece parar. Lanço a boia de patamar e relutantemente inicio o regresso à superfície despedindo-me do Ruivo, do Polvo e do Espirógrafo.